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domingo, 3 de maio de 2015

Dia da Mãe , Dia da Tia

'Sou mãe. Qual é o teu super-poder?' (ps- super-mom in love with wonder dad).
O colar é lindo da Peace's Closet. No kryptonite allowed in this house.

Voltou a acontecer - ontem ao final do dia (meu Deus e que dia maravilhoso, com direito ida em família à piscina, almoço de cachupada em família, seguido de um pezinho na praia, com mergulhos, perninhas de bebé croquete e escaldão no nariz), lá passeava eu a minha calma displicente, driblando a barulheira infernal que quatro putos conseguem fazer, quando uma alma caridosa me alertou, de forma muito simpática e sem ferir quaisquer susceptibilidades, ou duvidando da minha sanidade mental, que hoje seria Dia da Mãe.

Isto há-de melhorar. Espero...
Já perguntei ao meu médico de família se existe a possibilidade de estarmos a assistir aos primeiros sinais de alarme de uma demência a instalar-se calmamente na ternura dos meus trintas, se não será melhor enfiar a moleirinha no tubo da TAC, fazendo figas para que tudo esteja direitinho. 

Ele ri-se e garante-me que não há razões para receios, que ando trocada por estar sob o efeito de drogas poderosíssimas: tresando a oxitocina - a hormona do amor - e, de par de horas em par de horas, ponho a mama ao léu, e lá me ponho a fazer prova de esguicho, a bombar prolactina onde quer que esteja. 

Ainda há a questão do sono, ou melhor da falta dele, daquele retemperador, o profundo, esse que é já uma lembrança longínqua da qual tenho saudade infinita, que já me aparece à frente dos olhos como um delírio febril, uma miragem depois de uma longa e doce tortura de sono. Podia ainda acrescentar o mito das anestesias epidurais sobre a memória. sobre mecanismos tão simples como aceder de forma ordeira ao reservatório das palavras e vocábulos para depois construir frases com sentido. 

Às vezes falha tudo: aniversários, efemérides, compromissos (e também sou perita em overbookings não deliberados as minhas desculpas desde já a quem já sofreu na pele o meu despassaranço). O modo sobrevivência não liga a convenções sociais deste tipo. Andamos a mínimos olímpicos, mas estamos nas olimpíadas: isso já ninguém nos tira.

Foi por isso que nem estranhei descobrir, a poucas horas da celebração, que era Dia da Mãe e eu nada tinha para sacar da cartola. Sem drama algum, desta vez, porque todos os dias da minha vida são Dias da Mãe, e todos os santos dias recebo presentes dos meus filhos (eles podem não saber disso, mas um dos meus super-poderes de mãe é uma visão que vê o invisível). 

Depois de dez mil tentativas esta é a melhor foto do Dia da Mãe. Há sempre alguém com cara de parvo. Há sempre alguém de olhos fechados. Há sempre alguém fora de foco.

E também talvez porque venho de uma família reaccionária de direita e porque dia em que passei de menina-tonta a mulher-mãe foi naquele feriado de Dezembro, o da Padroeira de Portugal, o do antigo Dia da Mãe antes de as convenções consumistas o terem reagendado para Maio. 

Também porque sim, só porque sim, porque também tenho um certo prazer em ser do contra, de defender o indefensável, hoje pode ter sido Dia da Mãe, mas cá em casa também foi Dia da Tia.

Ser tia é uma bênção maior. É poder nunca dizer que não. É conceder todos os desejos e as loucuras que só uma criança poderia conceber. É estragar de mimos, é ter compaixão e paciência infinitas. 

É injusto para os filhos o amor que os pais têm aos sobrinhos. Ontem fomos à praia, fizemos pizza, comemos pipocas, bebemos groselha, pintámos os lábios de chocolate, fizemos penteados, pinturas de festa, até as nails fizemos, e depois ainda desencantámos dos baús os, fatos de princesa e de fada. Foi assim até ao adormecer, todos extenuados de amor. Só pelos filhos e só pelos sobrinhos eu me proponho a dispender de forças para tamanhas super-produções.

Acordei cedo ainda assim, na ressaca de uma festa pijama de primos. A casa toda em silêncio, aquela paz a que eu assisto deliciada com medo da sua fragilidade. Cheguei à sala, um sofá-cama cheio de primos destapados, semeados desordeiramente por entre almofadas e peluches. A máquina do café bufava, os gatos roçavam-se por entre as minhas pernas suplicando a sua saqueta Whiskas diária, quando uma voz fininha disse: 'tiaaaaa'.

Há muito tempo que a primeira palavra do dia não era mãe.
Hoje também por isso foi Dia das Tias.

Apresso este post porque quero voar até a uma Maternidade de Lisboa beijar uma mãe, uma amiga de sempre e para sempre.
E fazer juras de amor eterno a uma sobrinha pequenina, rechonchuda, perfeita, linda: a Sofia.

PS - A minha mãe é a mais linda!

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