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quarta-feira, 29 de abril de 2015

29 de Abril

Foto: Diana Quintela. O Photomaton do casamento da Estrela e as mãos da minha madrinha Thê


As roseiras de Santa Teresinha estavam em flor, a abraçar um dos portões do Jardim da Estrela.
Aqui na sala, onde escrevo, o botão de rosa que roubei de um logradouro do Bairro de Alvalade traz-me o perfume de um amor perfeito: o meu e o do João.

À hora marcada, há nove anos, conhecíamo-nos finalmente debaixo das rosas de Santa Teresinha. Ele era o leitor número 50.000, o número da sorte em que pus todas as fichas do meu destino.
Era tudo ou era nada.

Ele trazia uma tee-shirt pingona, conta-me vezes a fio que nem se deu ao trabalho de fazer a barba, que vinha despenteado. Apresentou-se-me tal e qual como era - cartas todas na mesa, nada a esconder, sem floreados a não ser aqueles do portão da Estrela onde marcámos o encontro.
Na mão trazia um presente. Não era para mim. Era para a minha filha Carolina, um Noddy, o seu amado Noddy.

Abram alas para o Noddy e para um grande amor. Foto: A Família Numerosa.

Sim, ele apresentou-se tal e qual como era: perfeito. Os mais cínicos chamar-me-iam à razão, poriam em causa o meu deslumbramento. Mas eu soube logo que ele era um anjo. Não me recordo da barba por fazer e o dress code também não era relevante para o caso - os anjos reluzem e basta. Só me recordo do guizo do chapéu do Noddy de peluche que ele trouxe para a Carolina a tilitar, como quem anuncia uma boa ventura.

O post de ontem era sobre dentes e dentistas. Sobre amizades improváveis e sobre o amor incondicional, à prova de qualquer defeito ou assimetria.

Colgate loves Pepsodent. Amor para Sempre. Foto: A Família Numerosa.

Há nove anos conhecíamo-nos finalmente, com a bênção de Santa Teresinha, no Jardim da Estrela, e nunca mais nos apartámos um do outro. Nunca mais. Começámos a a viver juntos a partir desse mesmo dia e a mudança dos tarecos do João para a minha casa foi a coisa mais natural e simples: dois pares de calças, três ou quatro tee-shirts, uma escova de dentes. Escassos dias depois dessa feliz coincidência que o Universo decidiu engendrar eu partilhei no meu blog esta foto, de duas escovas de dentes enamoradas. Era o fim da solidão das nossas vidas.

29 de Abril é para nós o dia em que o amor venceu.
É o dia de todas as improbabilidades e de todas as coincidências.
Dia 29 de Abril é o dia mais feliz.

O Marquês e a Marquesa pelas ruelas de Alfama, a caminho do copo de água. Foto: Não sei bem de quem.

[Há oito anos casámo-nos no Coreto do Jardim da Estrela, num contrato selado com pétalas de rosas de Santa Teresinha e algumas formalidades burocráticas. Voltámos a apostar tudo o que temos e em frente a todos os nossos amigos e família. É coisa séria o que temos; é a fortuna do amor; é a lotaria da vida que já nos deu mais do que pensávamos que fosse possível. Nem tudo são rosas apadrinhadas por santas e contos de fadas. Há oito anos vi o meu pai pela última vez. Escassos e breves instantes antes de me casar. Ele disse-me: 'Estás tão bonita'. Foi a última coisa que me disse.]

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