Quem faz um blog fá-lo por gosto

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Quem faz um filho fá-lo porquê?


Ontem fomos capa da Notícias Magazine.
'Detonámos' o photomaton improvisado numa salinha de reuniões do edifício do DN.
Caretas e mais caretas (o António estava com um à-vontade quase sobrenatural, mudando de pose e expressão facial/ corporal a cada disparo), gargalhadas que fizeram doer a barriga (e até já havia piolhos nas cabeças dos putos e nós ali, todos juntinhos, de encontro a uma parede, mesmo a pedi-las) e, no final, o António já queria que a jornalista - instantanemeamente baptizada de 'tia' (tão betos estes meus filhos...) - fosse viver cá para casa, com os seus dois filhos, cedendo para o efeito o quarto dos seus pais (antevê-se um regabofe de amigos no nosso T3+1 daqui a uns anos, com esta facilidade social da peste loira).

Nesta família numerosa não há timidezes fotográficas, porque a vida é demasiado curta para aparecermos de trombas, ou com vergonha da papada do pescoço (a Carolina ficou descontente a páginas-tantas por não ter soltado o cabelo). Aqui estamos nós, para a posteridade, sem tirar nem pôr: rimos alto, roçamos diariamente o caos, a nossa vida é uma montanha-russa.

[É claro que a Aurora, manteve a compostura - nem outra coisa se esperava da minha (ainda) pequenina]

Caretas à parte, o assunto é muito sério.
Temos três filhos. O quarto vai a meio da sua viagem e encontro marcado para aquele que será o primeiro açoite da vida no traseiro.

Disse isto na entrevista, mas não passou, muitas outras histórias, menos cor-de-rosa, tiveram que ser contadas na reportagem: sentimo-nos ridículos por ser endeusados, por nos colocarem o epíteto de 'corajosos', por termos a módica quantidade de quatro filhos.
Parece-me sempre ridículo, despropositado, desproporcionado o espanto e o deslumbramento. Ao João, que tem cinco irmãos e sete tios, ainda mais.
Mas desde quando quatro é ter muitos filhos?
A partir do momento em que temos o dobro  de filhos da média nacional é, de facto, preocupante.
Questiono-me muito sobre o porquê deste deserto de crianças no país. Há, obviamente, situações limite e com a taxa de desemprego jovem nos píncaros onde se mantém será difícil inverter urgentemente a pirâmide demográfica - aquelas coisas que estudávamos no ciclo a Geografia e achávamos que não iam servir para nada explodem-nos assim, na cara, já adultos.
Mas olho ao meu redor, para os meus amigos e para os meus colegas, e a explicação é outra: há estabilidade, há emprego, e eu não tenho o direito de criticar seja quem for das suas escolhas ou opções, mas a explicação é outra no mundo por onde me passeio diariamente.

Abdicámos e abdicamos de muitas coisas para erguer esta família?
Claro que sim!
Só na mensalidade das creches dos pequenos era um city break pela Europa a dois. Imagino-nos românticos, de mãos dadas, ao pôr do sol, por Paris; aos saldos, em Londres, pela Oxford Street, a mandar moedas de cêntimo, e a pedir desejos idiotas, enquanto nos lambuzamos com gelados, na Fontana de Trevi, em Roma...

Mas mudávamos alguma coisa? Não!
A casa está sempre desarrumada, brinquedos que nascem de geração espontânea, tralha por todo o lado, os gatos arranham o sofá barato e o cão às vezes faz xixi à entrada da casa, estragando os bonitos tacos de pinho do hall. Não há gelados italianos, mas os da Olá são porreiros também. Não mudávamos mesmo nada. As viagens ficarão para quando esta malta estiver crescidinha, e aí vamos recuperar o tempo perdido (nem que seja de autocaravana em regime hippie)


Fazemos alguns malabarismos?
Sim!
A ginástica não é o meu forte (nem dos meus filhos, tadinhos, tão desengonçados), mas o pai sabe fazer girar três bolas ao ar e especializámo-nos noutras atracções circenses mais mundanas: jantamos menos vezes fora (e quando o fazemos é num tasco), não vamos de férias para hotéis, ou vivendas alugadas com piscinas, mas temos casas de família nas beiras e nos Açores. Não temos cartões de crédito, abdicámos do seguro de saúde (lálálá, e agora estou grávida e tenho uma cesariana para pagar se me quiser dar ao luxo de ter mais conforto e o meu médico à frente da marquesa), tudo lá em casa é em segunda mão (do carrinho de bebé à máquina do café; da carrinha de sete lugares ao vestido deslumbrante da bebé, comprado por 0,50 cêntimos nos saldos da Humana For People do Intendente), mas pinto o cabelo de três em três semanas no salão (70 por cento de mais de 60 centímetros de cabelo branco assim obrigam). E Aurora usa fraldas caras, da Dodot; há coisas em que, por enquanto, ainda não precisamos de abdicar.

Falta-nos alguma coisa?
Não!
Temos quatro filhos porque temos a sorte de ter bons empregos, com flexibilidade, e uma família que nos acode logo se algo falha, ou à mínima ameaça.

Temos muita sorte?
Sim!
Nascemos com o cú virado para a lua.

Fizemos estes filhos por gosto. Somos uns felizardos. Não é um acto de bravura; é todos os dias um acto de amor.

[Reportagem aqui: http://www.noticiasmagazine.pt/2014/quem-faz-um-filho-fa-lo-porque-2/]



3 comentários:

  1. Filhos lindos, lindos. E a Aurora é tããããooooo fofinha!
    Alexandra

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  2. Respostas
    1. Não sei se o "olá" foi para mim... mas se foi não sou a Alexandra que pensa...
      Cheguei aqui através da Catarina "princesa". Não nos conhecemos (infelizmente!).
      Mas aproveito para dizer que adoro os seus posts - escreve tão bem!
      Continue! E bem haja pela família numerosa (eu sou a 7ª! outros tempos... abençoados, digo eu!).
      Alexandra

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