Quem faz um blog fá-lo por gosto

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Os Leiria-Ralha (!)


[Abril de 2013 - João, Diana, Aurora (inclusa), António e Carolina. Foto: www.ties.pt] 

Os Leiria-Ralha nascem de um acontecimento raro que se deu na blogosfera quando a blogosfera ainda não era negócio e o Facebook não passava de um sonho húmido de Zuckerberg.

Nascemos quando o blogger era o centro do mundo, era o que quiséssemos que ele fosse: fogueira de vaidades, alcoviteira e terreiro de engates movediços, churrasco de neuróticos, tertúlia de treinadores de todos os tipos de bancadas, ponto de encontro de gente gira, triste mas só.

Os Leiria-Ralha nascem de um jogo arriscado, uma aposta que se deve fazer com algum tento e cautela uma única vez na vida.

A parideira deste blogue pôs todas as fichas numa única casa da roleta. Apostou tudo o que tinha, com aquela força invisível e cega que destrói tudo por onde tem que passar para chegar sem atrasos ao sítio onde é suposto chegar (há quem lhe chame fé), que à visita 50.000 do seu blogue triste, sombrio e semi-clandestino, iguaria de uma elite seleccionada que o tentava guardar a todo o custo só para si, a sua vida de jornalista explorada, mãe solteira de uma criatura élfica loira de olhos azuis, a tropeçar de desaire em desaire, mudaria para sempre.

50.000 era o número com que desafiava o destino cheia de soberba messiânica, seria àquele número, perfeitamentente aleatório, que algo de extraordinário teria que acontecer: o carrossel deixaria de girar freneticamente com a música fora de tom, e a fasquia, lá no alto, seria derrubada como quem sopra um dente-de-leão em criança com medo de antever a calvice paterna.

Tudo o que se passou a seguir foi magia.

(Tem cuidado com aquilo que pedes; pode bem tornar-se realidade.)

Era a madrugada de dia 21 de Março. Se recorrerem ao Google verão que nessa madrugada um ido vereador dos Espaços Verdes mandou plantar 50.000 amores-perfeitos na Avenida, num prenúncio florido do que estava prestes a acontecer. Ele chegou à caixa dos comentários do blogue triste nesse dia, há oito calendários com gatinhos e Virgens Marias atrás. Ele chegou enquanto os jardineiros sachavam a terra dos canteiros da Avenida.

E escreveu apenas um ponto de exclamação.

Ele, revisor tipográfico, ela a ganhar a vida a escrever caracteres num jornal diário, foram unidos por um ponto de exclamação.

Esse ponto de exclamação, sinal de pontuação eminentemente literário, resume toda a nossa história: surpresa, arrebatamento, espanto (também houve raiva e dor, por vezes, claro está — os contos de fadas estão cheios de agruras trágicas)  por tudo o que fomos tecendo e construindo com menos palavras escritas pelo caminho (por vezes é preciso parar de escrever; é tempo, às vezes, de parar e viver).

Conhecemo-nos de carne e osso no Jardim da Estrela, sem regras ortográficas e gralhas a fazerem de pau-de-cabeleira, no dia 29 de Abril de 2006.

Ele trouxe um peluche do Noddy para a minha filha Carolina, então com dois anos, e eu soube, naquele instante, debaixo de uma roseira de Santa Teresinha em flor, que me acabara de sair a taluda.

Um ano depois casámos nesse mesmo jardim de Lisboa.

O António nasceu no final de 2008 e ficámos com um casalinho piroso loiro e sagitariano lá por casa, separado por cinco anos e pelos planetas Marte e Vénus. Cinco anos depoiss mais coisa menos coisa, a Aurora chegou-nos, serena e seráfica, a 1 de Maio de 2013, dia de greves e lutas, em plena intervenção da troika em Portugal.

Em vésperas de comemorarmos oito anos sobre o início desta aventura benzida com pós de perlimpimpim, em vésperas do primeiro aniversário da Aurora, os planos que a vida tem para nós decidiram abalroar aqueles que tínhamos feito para criar uma modesta família numerosa, de apenas três filhos: no final deste ano, chega-nos o nosso quarto filho, ao que tudo indica, pelas imagens a preto e branco desfocadas, uma menina, que vem com a força de uma revolução-surpresa. Passámos por todas as fases (todas elas valeriam novos pontos de exclamação): pânico, negação, terror... Depois, a seu tempo, instalou-se a alegria devida e com juros de mora.

Daqui a pouco mais de quatro meses,  faremos parte da pequena minoria de famílias com quatro ou mais filhos, num país sem crianças, devastado pela crise, desemprego, emigração.

Esta é a nossa história, aquela em que voltamos a apostar tudo.

Apertem os cintos: vai haver risos, choro, privação de sono e caos, muito caos.

Mas a viagem ainda mal começou. Não temos certezas de nada, só sabemos que vai valer a pena.





6 comentários:

  1. Oh, gostei tanto da história, até fiquei arrepiada! Felicidades

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  2. Adorei o post e a história! Também tenho uma família numerosa, mas apenas de 3 crianças :)
    Vou seguir!

    Beijinhos

    http://marta-dolcefarniente.blogspot.pt/

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  3. Não vos conheço, nem nunca vos vi mais gordos, mas já estou a torcer por vocês. Boa sorte! :)

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  4. Adorei conhecer o blog. Tudo de bom.

    www.margaridaflordaminhavida.blogspot.pt

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