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quinta-feira, 17 de julho de 2014

Diana e João, ou a Lei de Coulomb

[Foto: www.ties.pt]

Dizem que o amor tem qualquer coisa de Química. Mas há uma equação física, formulada por Charles de Coulomb no século XVIII, que descreve a interacção entre partículas electricamente carregadas e explica, também, como o Universo conspirou de forma tão perfeita até nos juntar de forma magnética, às vezes quase siamesa.

Os opostos atraem-se, diz a Lei de Coulomb e a frase batida.

Vejamos; vamos por partes: eu sou morena, vivo numa batalha permanente desde que sou gente com o perímetro da minha anca, contendo em vão tudo o que como, rio muito alto, falo tão mais alto quanto rio, choro muito, choro por qualquer coisa, boa ou má, faço das gralhas criaturas reservadas, falo da boca para fora, falo o que devo e o que não devo e digo muitos palavrões, justificando o calão com a minha costela beirã (aquela que depois já deu crianças de olhos azuis). Voto à direita, apesar de ter aura e fama de sindicalista e, pior que tudo, eu e o meu umbigo padecemos do complexo centro-do-mundo.

Já ele é loiro, é magro e seco, mas dá prejuízo aos rodízios brasileiros de carne suculenta, fala pouco e muito baixinho, ri-se de forma contida, e é um perigoso esquerdalho. É a mais generosa e doce de todas as criaturas do mundo: deixa o palco todo para mim, não precisa de protagonismos, segue atrás de mim, entre a sombra e o guarda-costas, ampara-me quando dou um trambolhão na passerele ou quando, em vez de aclamação e bravos, a plateia me lança vaias e apupos.

É claro que temos muito em comum, acredito que é isso que cimenta aquela força magnética dos opostos que nos juntou. Sem modéstia alguma, somos almas-gémeas no sentido de humor, na inteligência atrevida, e na incrível tendência para defender o indefensável, lavradores latifundiários do culto de ser do contra. E eu ganho a vida essencialmente a escrever, e ele ganha a vida a rever as palavras escritas dos outros e a traduzir livros. Somos também muito bons a resolver granéis variados, burocracias várias, como heranças, impostos, a organizar condomínios e a escrever textos jurídicos para as nossas causas perdidas.

E temos muito jeito para fazer filhos. É o que sabemos fazer melhor.

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